Bondade, Solidariedade, Células Tronco

Trabalho com casais que desejam engravidar desde 1983, havia cinco anos da nascimento de Louise Brown, o primeiro bebê de proveta do mundo.

Hoje divido meu trabalho entre Aracaju e Maceió. Ao longo dos últimos dez anos comecei a inverter o caminho que meus pais fizeram em 1951, quando migraram para Aracaju.

Aprendi a gostar de conhecimento com Jurandyr, meu pai, sergipano, dentista apaixonado por jornalismo, um homem cuja cultura foi forjada na informação, preferindo desfrutar do verdadeiro valor da vida que é o espiritual e o sócio-cultural, abrindo mão da corrida globalizada, onde o homem vem perdendo sua identidade para o falso paradigma da busca material.

Apesar de eu também ter optado pela ciência e pelo conhecimento baseado em evidencias, herdei o lado filosófico do meu pai, lapidado pela extrema bondade de Geisa, alagoana, dona de casa, minha mãe.

Estou aprendendo muito ao observar a vida, as pessoas e o universo que nos cerca.

Poderia começar a falar sobre biologia molecular, fenômenos imuno-histo-químicos, genes, cromossomos, diferenciação celular, embrião, etc. Mas, não cometeria este erro primário porque desejo falar para leigos.

Segundo Martin Seymour Smith, que fez uma meta-análise na obra “Os Cem Livros Que Mais Influenciaram a Humanidade”, que recomendo a leitura, o ser humano já nasce com o gene do egoísmo, travando uma enorme luta interior para não ser rotulado como tal. Afirma ele que os ricos são egoístas por natureza e opção, por isto acumulam riquezas. Como todos nós nascemos com esse gene, o modo de como somos educados influencia positivamente ou negativamente na manifestação do egoísmo. É notório que a solidariedade está mais presente nas classes mais pobres, porque experimentaram ou experimentam sofrimentos semelhantes, além de estarem à margem do ideal da república que Platão e da democracia escreveu há mais de três mil anos.

Vou teorizar um pouco e pedir par que vocês voltem a ler o parágrafo anterior tendo em mente as Pesquisas com Células Tronco. Talvez entendam porque só os mais generosos ou os que sofrem pessoalmente ou com parentes com doenças incuráveis (Diabetes, Parkinson, nas filas de transplantes, para ou tetraplégicos, etc,) são os que mais defendem as pesquisas.

Baseado no conceito do gene do egoísmo que Smith descreveu acima, posso também teorizar que os defensores das pesquisas ou os contrários, ou ambos, possam deter o mesmo gene, dependendo da ótica de quem observa. Segundo o I Ching, o Livro das Mudanças - um oráculo oriental, que inspira magos e líderes orientais e ocidentais - escrito 1500 ac, baseado na filosofia Yang e Yin, as forças do universo estão sempre em mutação. Ou seja, um pré-conceito pode virar um conceito ou vice e versa.

Quando nós observamos discursos retóricos, que não se adaptam ao processo evolutivo natural da humanidade, corremos o risco de nos distanciarmos das conquistas que a própria evolução oferece àqueles que ousam.

Muitos não sabem que na década de quarenta, as mulheres viviam em torno de quarenta anos. Era comum as mortes por hemorragias nos partos, hipertensão, diabetes, infecções, varizes, etc. A viuvez masculina era freqüente. Hoje a mulher pode expectar viver oitenta anos e em breve 120 anos.

Este aumento acelerado da expectativa de vida deve-se à evolução da medicina e dos tratamentos. O problema é que a longevidade não é acompanhada por qualidade de vida devido ao envelhecimento dos tecidos e órgãos. É comum encontramos idosos em leitos ou mesmo confinados em hospitais e residências, promovendo sofrimentos e gastos que a maioria, nem o estado, consegue suprir.

Eu posso afirmar que as pesquisas com células tronco são essenciais para o futuro da humanidade e nós não sobreviveremos sem elas. Não vou me ater sobre esta minha afirmação, porque requereria uma longa linha de pensamento e iria tornar este texto mais longo ainda.

Em janeiro enviei um e-mail para Ana Maria Braga com cópia para Renato Machado, Sidney Rezende, Arnaldo Jabor e Ministro Carlos Brito.

Fiquei preocupado quando nos debates e entrevistas, mesmos os cientistas, deixaram de contribuir para que a população tivesse menos medo sobre as pesquisas com células tronco, porque não sabiam se posicionar de maneira clara quando inicia a vida humana.

Do ponto de vista da cultura humana, acredita-se que começa a vida quando o espermatozóide penetra no óvulo, e neste momento a alma está presente no embrião!

Baseie minha tese em: "Quando a alma entra no embrião?"

Não pretendo discutir sobre crença, dogma ou julgamento de valor filosófico.

A ciência discute em outras bases: quando começa os batimentos cardíacos; quando se forma o sistema nervoso; etc.

Vou tentar mediar essas vertentes e dar algumas explicações para ilustrar o raciocínio abaixo.

Eventos importantes do desenvolvimento do embrião humano.

Ponto zero – Logo após a ovulação, normalmente na tuba (trompa), momento em que o espermatozóide penetra o óvulo.

24 horas – Inicia a primeira divisão celular para duas células (2 células tronco). TOTIPOTENTES (Capazes de formar qualquer tecido e/ou célula humana).

3 dias - Embrião, entrando em estágio de mórula, com várias células (várias células tronco).

6/7 dias - Implantação do embrião na parede uterina em estágio de blastocisto. AINDA TOTIPOTENTES.

ENTRE ESTE ESTÁGIO E O PRÓXIMO SE FORMA A GÁSTRULA, QUANDO SE INICIA A ARRUMAÇÃO DAS CÉLULAS QUE FORMARÃO OS TECIDOS. AINDA NÃO TEMOS QUALQUER ÓRGÃO OU SISTEMA FORMADOS, OU SEJA, AINDA NÃO TEMOS O INDIVÍDUO.

2,5 semanas - Organogênese em curso. Início da formação da notocorda e do músculo cardíaco; formação das primeiras células sangüíneas, do saco vitelínico. COMEÇA A FORMAÇÃO DO INDIVÍDUO E A PROVA DISSO É QUE OS INDIVÍDUOS DO MESMO EMBRIÃO (GÊMEOS UNIVITELINOS) SÃO FORMADOS A PARTIR DO 14/15º DIA. A neurulação ou formação do Sistema Nervoso se inicia na semana seguinte.

Como vocês podem observar:

É IMPOSSÍVEL QUE A ALMA HUMANA ESTEJA PRESENTE NO MOMENTO DA CONCEPÇÃO. E, COM CERTEZA, ISTO NÃO DEVE OCORRER ANTES DO 15º. DIA DA FECUNDAÇÃO, OU SEJA 15 DIAS APÓS A FORMAÇÃO DO EMBRIÃO. PORQUE NESTA ÉPOCA É QUE O EMBRIÃO PODE CLONAR A SI PRÓPRIO PARA FORMAR GÊMEOS, TRIGÊMEOS, QUADRIGÊMEOS UNIVITELINOS. CASO A ALMA HUMANA OU ANIMAÇÃO OCORRESSE NO DIA DA FECUNDAÇÃO, ESTARÍAMOS AFIRMANDO QUE OS GÊMEOS UNIVITELINOS TERIAM A MESMA ALMA, O QUE CONCEITUALMENTE É IMPOSSÍVEL.

Vamos agora a alguns conceitos:

Segundo a doutrina espírita:
Alma [latim: anima, do grego: anemos= sopro, emanação, ar] - É o ser imaterial, distinto e individual, unido ao corpo que lhe serve de invólucro temporário, isto é, o Espírito em estado de encarnação.

Do ponto de vista etimológico:
Alma é um termo, derivado do latim Ănima, refere-se ao princípio que dá movimento ao que é vivo, o que é animado ou o que faz mover. De Ănima, derivam diversas palavras tais como: animal (em latim, animalia), animador, ...

Baseado nestes conceitos e na cultura popular, gostaria de ajudar a diminuir as dúvidas das pessoas que desconhecem as informacões que acabei de relatar. Baseado na teoria da animação (momento que a alma entra no embrião), minha tese é que se utilizarmos as células embrionárias até o sexto/sétimo dia, período que parece ser melhor para analisarmos e dominarmos as técnicas para a diferenciação celular e assim produzirmos tecidos e órgãos vitais, conceitualmente ainda não estaremos interferindo com a alma que só deve ocorrer após o 14º dia da evolução.

Não podemos sofismar dizendo que somente o embrião é um ser humano potencial. Porque eu poderia responder dizendo que os espermatozóides têm vida, os óvulos também e são potenciais formadores dos embriões. Assim, todos nós seriamos condenados por descartarmos em nossos momentos de prazer masculino e ovulação feminino, os potenciais formadores dos potenciais seres humanos.

As pesquisas com células tronco em embriões sem alma e sem destino (congelados para serem descartados) é crucial para a melhora da qualidade de vida de bilhões de seres humanos com ALMA.

Marco Cavalcanti
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